O avanço tecnológico trouxe inúmeras transformações para a educação, e o uso de celulares nas escolas é um dos fenômenos mais debatidos atualmente. O que seria uma ferramenta a ser usada no contexto da pandemia, acabou roubando a cena. Como diretor de uma escola pública estadual em São Paulo, tenho observado de perto os desafios e oportunidades que essa tecnologia traz para o ambiente educacional.
Este artigo visa explorar as dificuldades enfrentadas na gestão do uso excessivo de celulares em sala de aula, bem como as controvérsias geradas pelas plataformas digitais implementadas na rede estadual de ensino.
Desafios na Gestão do Uso de Celulares: Distratores de Aprendizagem
O celular, quando não utilizado de forma adequada, pode se tornar um grande distrator. Estudos mostram que a presença de celulares em sala de aula está associada a uma diminuição na atenção e no desempenho. Kenski (2012) destaca que a falta de políticas claras pode agravar essa situação, levando a um uso descontrolado dos dispositivos. "A atenção é um recurso limitado, e distrações constantes podem prejudicar significativamente o aprendizado" (WILLINGHAM, 2010, p. 45).
Tenho observado que de modo geral perdemos o controle do uso de celulares no contexto escolar, principalmente na rede estadual de São Paulo, devido a implantação das plataformas digitais, apesar de muitos equipamentos nas escolas muitos alunos e professores ainda utilizam os celulares como ferramenta principal de estudos e monitoramento das atividades.
A questão central é que os alunos frequentemente enfrentam dificuldades em gerenciar o uso dos celulares exclusivamente para fins pedagógicos, enquanto os professores encontram obstáculos em controlar essa utilização, o que resulta em conflitos e desentendimentos no ambiente escolar.
Oportunidades e Soluções: Ferramenta de Aprendizagem
Quando integrados de forma eficaz, os celulares podem ser poderosas ferramentas de aprendizagem. Aplicativos educacionais e plataformas de e-learning podem enriquecer o currículo e oferecer experiências de aprendizagem personalizadas. Kenski (2012) reforça que a formação de professores é essencial para que eles possam mediar o uso dessas tecnologias de forma eficaz. Harari (2018, p.150) destaca que "preparar os alunos para um futuro incerto, onde a adaptabilidade e o pensamento crítico serão habilidades essenciais, é fundamental". Assim, é imprescindível que educadores se prepararem para essa demanda real e urgente.
O uso de celulares pode ajudar os alunos a desenvolver competências digitais essenciais para o século XXI, como a alfabetização digital e a capacidade de pesquisar e avaliar informações on-line. Moran (2015) destaca que essas competências são fundamentais para preparar os alunos para o mercado de trabalho e a vida em sociedade.
Engajamento e Motivação
Sabemos que tecnologias móveis podem aumentar o engajamento dos alunos, tornando o aprendizado mais interativo e relevante para suas vidas. Almeida (2013) observa que, quando bem utilizadas, essas tecnologias podem transformar a dinâmica da sala de aula, tornando-a mais participativa e colaborativa.
O uso de celulares para fins pedagógicos, quando realizado com moderação, pode promover um engajamento positivo entre os estudantes, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Santos (2021) a tecnologia móvel oferece acesso a uma vasta gama de recursos educacionais, desde aplicativos interativos até plataformas de aprendizado online, que podem complementar o conteúdo abordado em sala de aula.
Quando integrados de forma estratégica ao currículo, os celulares podem estimular a autonomia dos alunos, permitindo que explorem temas de interesse e desenvolvam habilidades de pesquisa e resolução de problemas (COSTA, 2020).
Na obra Reflexões sobre Educação no Contexto da Pandemia, de minha autoria (2022), destaco o papel transformador que os celulares desempenharam como ferramentas de aprendizagem durante os períodos de ensino remoto. Evidencio o argumento de que, em meio às restrições impostas pela pandemia, os dispositivos móveis emergiram como aliados indispensáveis para a continuidade educacional, permitindo que estudantes e professores mantivessem o contato e o fluxo de informações de maneira eficaz.
Vale ressaltar que os celulares, com suas funcionalidades multifacetadas, facilitaram o acesso a plataformas de ensino online, recursos multimídia e aplicativos educacionais, promovendo um ambiente de aprendizado mais dinâmico e interativo. Além disso, enfatizo que o uso dos celulares incentivou o desenvolvimento de habilidades digitais nos alunos, preparando-os para um mundo cada vez mais tecnológico e interconectado.
No entanto, também faço um alerta para a necessidade de um uso equilibrado e consciente desses dispositivos, a fim de evitar distrações e garantir que seu potencial pedagógico seja plenamente aproveitado.
Para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades, é crucial que as escolas desenvolvam políticas claras e equilibradas sobre o uso de celulares. A formação contínua de professores e o envolvimento dos alunos na criação dessas políticas podem ajudar a mitigar conflitos e promover um ambiente de aprendizagem mais produtivo. A integração consciente e crítica das tecnologias móveis pode transformar o ambiente educacional, preparando os alunos para os desafios do século XXI.
Além disso, o uso moderado de dispositivos móveis pode facilitar a personalização do aprendizado, atendendo às necessidades individuais dos estudantes e promovendo um ambiente mais inclusivo e adaptativo. No entanto, para que esse potencial seja plenamente realizado, é fundamental que educadores estabeleçam diretrizes claras e promovam práticas de uso responsável, garantindo que a tecnologia seja uma aliada no desenvolvimento cognitivo e social dos alunos.
Autor:
Cezar Sena
Mestre em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de Escola Pública; Professor universitário; Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro.