Censupeg há 1 ano
Tempo de leitura: 19min e 55 sec #Educação

A relação da Pedagogia com a Neurociência


A palavra Pedagogia tem origem na Grécia, paidós (criança) e agodé (condução). Pedagogo significa condutor de crianças, aquela pessoa que ajuda a orientar o que se deseja ensinar. Nos primórdios, esse era um trabalho realizado por um serviçal, mais especificamente um escravo, que era encarregado pela formação intelectual e cultural. A pedagogia está ligada ao ato de levar o ser humano ao conhecimento. 

“Paideia é um conceito global e envolve não somente aquilo que se entende hoje por educação, mas também tem traços de conceitos como civilização, tradição e cultura. A educação na Grécia Antiga buscava formar seres sábios e saudáveis nos múltiplos aspectos capazes de governar e de impactar a sociedade positivamente. Assim deveria ser hoje.... “(Marrou, 1973, p.25)

De modo genérico, pode-se dizer que a noção de pedagogo como mero “condutor de crianças” é inadequada, para os dias de hoje, pois sabemos que sua função vai muito além do que isso. Usando as palavras de Gadotti (1978, p.6), afirma-se que: “conduzir as crianças, hoje, é papel do motorista de ônibus escolar e não do professor, do pedagogo”. A sociedade atual cobra desse profissional outras funções, (tanto nas escolas, nas empresas, nos hospitais, nas editoras, e em outras instâncias sociais).

O desafio do pedagogo é manter-se atualizado sobre as novas tecnologias de ensino e desenvolver práticas pedagógicas para manter a curiosidade do educando para o aprender. Os pedagogos cada vez mais precisam buscar o aprimoramento de seus conhecimentos aumentando suas competências e entender como funciona a aprendizagem de seus educandos para que tenha sucesso no que está se propondo a ensinar.

A Pedagogia até hoje, possui a preocupação com os meios de ensino (métodos e técnicas), bem como estudou as teorias do desenvolvimento e da aprendizagem humana como forma de compreender e intervir nas formas de construção do conhecimento. Essas se dão por meio da estruturação didático-metodológicos relativos ao como ensinar, o que ensinar, quando ensinar e para quem ensinar, levando crianças e jovens ao conhecimento científico. Portanto, a Pedagogia consubstancia-se no polo teórico-prático da problemática educacional, ou seja, na práxis pedagógica da atividade educativa. (GADOTTI, 2001; VÁSQUEZ, 1977)

Desta forma é imprescindível que o Pedagogo aprofunde e atualize seus conhecimentos acerca da aprendizagem para propor novas formas de ensinar. As descobertas sobre o funcionamento cerebral podem contribuir nesses sentidos, porém são as Neurociências com seus estudos robustos sobre o sistema nervoso que podem contribuir de forma integral e efetiva. Vejamos que:

A palavra “neurociência” é jovem. A Society for Neuroscience, uma associação que congrega neurocientistas profissionais, foi fundada há pouco tempo, em 1970. "O estudo do encéfalo, entretanto, é tão antigo quanto a própria ciência. Historicamente, os neurocientistas que se devotaram à compreensão do sistema nervoso vieram de diferentes disciplinas científicas: medicina, biologia, psicologia, física, química e matemática. A revolução nas neurociências ocorreu quando esses cientistas perceberam que a melhor abordagem para a compreensão de como funciona o encéfalo vinha de um enfoque interdisciplinar, combinação de abordagens tradicionais visando produzir uma nova síntese, uma nova perspectiva. A maioria das pessoas envolvidas na investigação científica do sistema nervoso considera-se, hoje, neurocientistas.”(BEAR, M.F. Connors, B.W. Paradiso, M.A. 2017, p.4)

A contribuição das Neurociências na perspectiva da inovação pedagógica está no embasamento técnico-científico sobre como ser humano desenvolve aspectos da cognição como a linguagem, criatividade e raciocínio, por meio da atividade cerebral. Além disso, é essencial, que o professor considere a especificidade de cada aluno durante o processo de construção do conhecimento. Na perspectiva das neurociências, a aprendizagem é um processo de aquisição de informação que ocorre por meio da captação delas através dos sentidos, que por impulsos nervosos são levados à diferentes regiões cerebrais para decodificação, armazenamento, compreensão e possíveis produção de respostas a partir delas. Essas, por sua vez, são expressas por meio do comportamento observado.

Preparar os pedagogos para a realidade que irão enfrentar, é uma necessidade para acompanhar os avanços nos campos educacionais e de ensino e aprendizagem.

Entender como o encéfalo aprende, como assimila o aprendizado, é de fundamental importância para o professor saber estimular o aprendiz. Saber que os neurônios formam novas sinapses é de suma importância para preparar o ambiente desenvolvendo técnicas para estimular o aprendizado e para que este não seja esquecido.

Neurônios são chamados também de células nervosas, são células do sistema nervoso, que estão relacionadas com a propagação do impulso nervoso, sendo consideradas unidades básicas desse sistema. Nosso cérebro é feito de trilhões de neurônios, que fazem o processamento da aprendizagem.

A sinapse é uma região onde há comunicação entre os neurônios, entre neurônios e músculos e entre neurônicos e glândulas. Na grande maioria das sinapses, a transmissão de informação é possível graças à presença de neurotransmissores, que são mensageiros químicos.

A relação entre neurociências e aprendizagem é nova, pois ela surge no campo do sistema de informação e da engenharia. Considerando o aspecto educacional, é possível estabelecer relações entre o funcionamento do sistema nervoso em interface com a aprendizagem, observando os principais teóricos do desenvolvimento e da aprendizagem estudados na pedagogia. São eles: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896- 1934), Henri Wallon (1879-1962) e David Ausubel (1918-2008). Esta relação faz parte de uma nova ciência chamada Neuropsicopedagogia.

As neurociências aplicadas à educação contribuem no auxílio ao estudante durante seu processo de aprendizagem. O professor, que tem conhecimento sobre elas, pode inovar na utilização de recursos motivacionais, que tenha facilidade para o estudante e que seja ensinado de forma interativa para que o sujeito entenda e tenha interesse. Por isso, quando o professor aplica os conhecimentos sobre as neurociências na sala de aula, ele pode obter mais rendimento, um ambiente recheado de estímulos e de aprendizagem.

Outro ponto que temos de destacar é que temos algumas funções que ocorrem no encéfalo, exatamente no nosso córtex pré-frontal, as quais impactam diretamente na aprendizagem. Elas contribuem no processamento das informações advindas do sistema sensorial, auxiliando na decodificação, armazenamento e recrutamento dessas para a construção do conhecimento. Essas são chamadas de funções executivas, e Adele Diamond as divide em três conjuntos:

  • Memória de trabalho: capacidade de reter e acessar informações em períodos curtos de tempo, combinando e recombinando-as entre si. Está relacionada a criatividade. A função é essencial para a leitura e tarefas que exigem planejamento, como resolução de problemas e jogos com instruções;
  • Controle inibitório: capacidade de inibir a impulsos, ajudando concentração, eliminando possíveis distrações,
  • Flexibilidade cognitiva: capacidade de reorganizar pensamentos e práticas para adequá-los a determinados contextos.

É de suma importância que o professor entenda como o aprendizado acontece para aplicar práticas pedagógicas em sala de aula, que desenvolvam o aprendizado do estudante. É fundamental conhecer as necessidades do estudante e como ele retém essas informações, qual forma de ensino funciona com ele. Uma estratégia essencial é conseguir prender a atenção do aluno por meio de inovações na forma de ensinar.

Aqui na Faculdade Censupeg, o curso de Pedagogiatrabalha na formação docente para dar conta de fornecer aporte teórico e prático para que os profissionais desenvolvam competências exigidas em um cenário educacional que acompanha os avanços tecnológicos e ressignifica os papéis dos atores envolvidos nesse processo.

Anteriormente, o professor era tido como o centro do saber e os estudantes, eram passivos e receptores. Na sociedade atual, o professor passa a ser um mediador do conhecimento que é construído por meio de ações contextualizadas com a realidade desses estudantes. Oferecer uma licenciatura baseada na formação de competências aos docentes é fundamental para corrigir algumas inadequações decorrentes da formação inicial e oportunizar uma base capaz de oferecer segurança frente às mudanças no âmbito social e educacional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BEAR, Mark F., Connors, Barry W., Paradiso, Michael A. Neurociências:desvendandoo sistema nervoso.4ª ed, Porto Alegre: Artmed, 2017.
  • FÜLLE, A. Lopes, L. Histórico da neuropsicopedagogia no brasil: origens, conquistas e perspectivas.Disponível em:https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/8324. Ano da publicação: 2023.
  • GADOTTI, M. Revisão crítica do papel do pedagogo na atual sociedade brasileira: introdução a uma pedagogia do conflito. In: Revista Educação & Sociedade. São Paulo: Cortez/Editora Moraes, v.1, n.1, p.5-16, set./1978.
  • MARROU, Henri Irénée. História da educação na Antiguidade. São Paulo, E. P. U., Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973.
  • https://www.cartacapital.com.br/blogs/vanguardas-do-conhecimento/aulas-invertidas-sao-muito-mais-eficientes/
  • LENT, Roberto.,BUCHWEITZ, A. MOTA, M. B (org). Ciência para Educação: uma ponte entre dois mundos. São Paulo: Editora Atheneu: 2018.


Autora:
Profa. Lidiane Soares
Coordenadora do Núcleo de Ensino

Curso Censupeg

PEDAGOGIA

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